domingo, 22 de maio de 2011

Colaboração: Um Projeto Histórico





*Bruno Vargas (Dollee).
Estou aqui para falar do Japan Project, o evento que, embora não pareça, uniu pessoas ao  realizar a maior contradição cultural da cidade de Bagé. E não estou exagerando em ponto algum, me explicarei nas próximas linhas:


Quando falo da maior contradição cultural, é pura verdade. De todas as atividades culturais que aconteceram e acontecem na cidade de Bagé, a japonesa é a única que uma multidão de crianças e adolescentes viveram e cresceram sozinhos com ela. O pessoal do rock tinha sua tribo, o pessoal do nativismo, o pessoal da religião, o pessoal dos carros, os skatistas, enfim, os movimentos culturais todos agrupavam uma certa quantidade de pessoas enquanto o pessoal adorador da cultura japonesa continuava excluído da sua própria gente.


E não é difícil de se entender. Quer dizer, milhares de crianças que assistiam séries incríveis como Jiraya, Jaspion, Jiban, Comando Estelar Flashman e O Menino Biônico, acabaram se tornando adultos. Depois que cresceram, ficaram na deles, eles e suas saudades. Se você conversar sobre Jiraya com um adulto, terá sérias possibilidades de receber uma aula sobre a série.

Enquanto o pessoal se tornava adulto, eu descobria um tipo de desenho diferente na tv. Um desenho que me fazia ter uma vontade incontrolável de assistir o próximo episódio. Os personagens tinham carisma e um existencialismo que eu nunca havia visto em outros desenhos. Eles evoluíam, começavam fracos e  iam se fortificando fisicamente e mentalmente conforme o tempo. O tal desenho era um anime chamado Dragon Ball. Minha geração assistiu Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco, Shurato, Rockman, Fly, Esquadrão Especial Winspector, Solbrain, Kamen Rider Black RX, etc.

Uma outra geração conseguiu pegar da internet muito mais do que víamos na tv. Na verdade acho que é meio confuso dizer que a geração que descobriu o japão pela internet foi/é uma geração distinta das outras. Com a internet nós todos conseguimos tudo aquilo que gostávamos quando mais novos ao mesmo tempo que descobrimos coisas novas. A cultura japonesa passou a ser explorada em todos os pontos, nosso conhecimento ficou além dos animes e tokusatsus. A ampliação foi tanta que não será nada incomum se você avistar um samurai visual kei brasileiro cantando a música de abertura do Dragon Ball Z.

Bom, voltemos ao início da conversa. Até 2006, os bageenses que apreciavam a cultura pop e/ou cultura histórica japonesa, costumavam ir aos eventos em Porto Alegre ou outras cidades, caso quisessem interagir com os chamados otakus. Eu mesmo fui em dois eventos antes do surgimento do Japan Project.

O Japan Project conseguiu reunir todo esse pessoal que nem sabia que poderiam existir outras pessoas assim como eles. Umas bem diferentes das outras, em muitos casos, mas com praticamente os mesmos objetivos. E numa cidade tradicionalista até demais, começou a aparecer jovens “esquisitos”, “esquisitos” e unidos. Por isso que o Japan Project foi a maior contradição cultural da cidade de Bagé.

No meu caso, tudo começou quando eu estava num evento de anime em Porto Alegre conversando com um carinha que vendia camisetas. Quando eu disse que era de Bagé, ele me disse “Ah sim, vai ter um evento lá também agora”. Claro que neguei essa informação. Um evento de cultura japonesa em Bagé? Nem em sonho eu teria imaginado isso.

Mas a informação do carinha que vendia camisetas era verdadeira. Depois do primeiro Japan Project eu li no jornal a notícia e pessoas me falaram sobre. Aí pensei: “Uau, o pessoal que fez isso com certeza tem coragem de sobra. Isso é histórico”.




*Cronista e poeta bageense.

3 comentários:

  1. Ow Dollee, ficou faltando cara, teu texto tá super show e terminou parece prematuramente, quero o resto da narrativa, o que veio depois, como tu reagiu quando viu o evento e tal, fiquei curioso em ver a visão de alguém sobre o antes e o depois do Japan Project cara! XD

    De boa, foi algo que nem mesmo eu sei explicar como a gente se atreveu a fazer, a gente chegou de POA em Abr, nos reunimos com o Tiago logo depois e em Out o evento tava saindo, e acho que só porque a gente ainda tava tunado pelo evento lá em POA que a gente fez com tão pouco tempo de preparo e mesmo assim achou que ia dar certo! XD Foi uma correria, uma canseira, Leonardo e eu fizemos tudo que foi possível e quando terminou o evento, acho que os dois diziam "graças a Deus que passou" porque a gente tava quase em coma de tanto cansaço e nervosismo, afinal de contas, embora a gente não visse como o Dollee mencionou acima, a gente sabia que era algo totalmente adverso ao que Bagé tava acostumada, então, imagina se desse errado, como seria vergonhoso? Ainda bem que a gente não se deixou levar por essa possibilidade e arriscou mesmo com todas as chances de dar errado! XD E é fato que só não deu errado, porque Bagé apoiou, e quando digo Bagé, eu me refiro justamente a essa galera que o Dollee citou acima, que vivia escondido e curtindo essa cultura sozinho, sem sua tribo, uma galera que aproveitou o espaço que o Japan Project criou, e o apoiou, incentivou e SOMENTE POR ISSO o evento persiste até hoje, porque a galera Otaku de Bagé manteve o evento, frequentando, apoioando e incentivando, e por isso, me atrevo a dizer com toda a certeza, que quem fez história em Bagé foi o público que curte cultura japonesa, que aproveitou uma brecha pra mostrar que eles também querem seu espaço na nossa cidade, e merecidamente, a gente merece esse pedacinho do Japão aqui em Bagé!

    Show de texto Dollee, quero ver a continuação! ;)

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  2. O amigo Dollee comparte comigo a mesma visão sobre o Japan Project e, principalmente, o impacto dele na sociedade local. Todos sabemos que vivemos numa sociedade conservadora e cercados por grandes muros que existem aqui no pampa. Um evento destinado a cultura pop japonesa é até hoje visto como uma excentricidade, tanto que a cada ano a equipe tem que se esforçar ainda mais na divulgação do evento, mesmo ele já estando consolidado perante a muitas pessoas, para que conseguigamos derrubar barreiras e preconceitos. Vejo-o como a luta de uma minoria pelo seu espaço e buscando respeito.
    Hoje sinto-me muito honrado por ter sido convidado a participar dessa aventura e perpetuação do sonho que se concretizou há alguns anos. Com o Japan Project aprendi muito como humano e cidadão.

    E também voto pela continuaçãos do texto do meu amigo Dollee.

    - Ézio Sauco

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  3. E ae Lanthys! Realmente o texto teve um corte, achei que não seria notado.
    Mas bem, agora cho que vou ter que terminar o texto então... =p

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